Fratura

Há dias eu sinto uma dor intensa. 
Não melhora e não piora. Mantém-se aqui. Parada, estável, doída.
Há alguns dias o meu corpo não reage e meu coração não desaperta.
Meus olhos se confundem com as lágrimas, enxergam pouco à frente e muito do passado.

Há dias, não sei quantos dias. Nem quantas noites, eu tenho sido silêncio.
Meus lábios não fazem curvas e meu rosto não sorri.
Há dias eu me sinto feia, sem graça e nublada.
Como aqueles dias chuvosos em que a vontade é continuar sob os lençóis e edredons.

Há dias. Mais dias do que posso suportar, meu peito não consegue respirar.
Os medicamentos humanos não curam as minhas feridas e meu estômago está embrulhado.
Há dias, o céu azul e o lindo dia não conseguem me convidar para um passeio.
E não tem a ver com pandemia, nem afastamento social. Sim, com confinamento obrigatório, mas involuntário.

Há dias minha alma está quebrada.
Não há bandagem, cola ou esparadrapo que consigam colar os meus pedacinhos.
Existe apenas uma falta de ar constante, um desânimo frequente e sombras turvando minha vista.
Há dias eu tropecei no que poderia ter sido a minha perene infelicidade.
Desde então, descobri fraturas na minha Alma...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não vá embora sem comentar,
Você alimenta estas letras.

A viagem mais recente

A morte em mim

 Todas as vezes que tentei morrer,  Não era a minha vida que eu queria tirar. Queria matar a morte que vive em mim. Que me despedaça, que me...