Clichê

 Eu gosto de escrever clichês. Eles são fáceis, todo mundo vive e existe um para cada situação. 

Clichê, no sentido figurado, é uma ideia já muito batida, uma fórmula muito repetida de falar ou escrever, um chavão.

Etimologicamente, a palavra clichê tem origem no francês cliché.

São sinônimos da palavra clichê: lugar-comum, repetido, chavão, comum, previsível e repetido.

Clichê era, originalmente, uma chapa metálica que trazia gravada em relevo uma imagem destinada a ser reproduzida para impressão de imagens e textos por meio de prensa tipográfica.

No caso deste texto, é mesmo por causa de um bordão. Um termo que se usa muito e muito se esquece. 

- A vida é breve.

Acredito que a gente deve ler e/ou escutar essa frase (ou algo parecido), diversas vezes por dia. Ainda assim, não nos damos conta do quão frágil é essa nossa carcaça apelidada de corpo. 

Passamos a vida não nos importando para a saúde, exagerando, comendo porcaria, bebendo um monte, saindo com diversas pessoas, machucando e sendo machucado com a única justificativa: - a vida é curta. 

Mas não, amigos-leitores. Ela não é curta. É frágil. E por mais que façamos tudo certo, podemos acordar num belo dia e perceber somente o caos ao redor. É mesmo que se percam filhos, pais, tios e amigos, o que a gente faz? Segue em frente, afinal, a vida é breve!

Mas e quando você se pega fragilizado por mãos alheias e o filme da vida, que era curta, passa pela sua cabeça e fica ainda mais curta? 

Os “amigos” sumiram, o corpo sarado não está útil e sua saúde está frangalhos? Fazer o que? - reclamar para Deus. Pedir aos anjos, aos arcanjos e todas as entidades que perdoem os seus excessos anteriores e te deem mais uma chance de viver. Talvez, ser útil. De amar e ser amado. Ser melhor?

Nunca julguei que eu tivesse medo da morte. Sempre tive mais medo de definhar aos poucos do que de morrer. Mas neste fim de semana, quando meu estado de saúde passou de ótimo para crítico e de crítico para estável, eu descobri que eu tenho medo dessa faceta da morte. Essa de dor e desespero. De tristeza e luto. 

Tive medo de não mais ver meus filhos, meu marido, minhas cachorrras, a família, os netos que não tenho. Os cães que não adotei e de não testar aqueles pratos salvos no aplicativo. Pensei no pudim que eu não fiz, na feijoada que não comi, na caipirinha que não bebi e que talvez não bebesse nunca mais. Pensei nos lindos lugares que não fui, nas pontes que não cruzei e nas praias que não me banhei. Não por minha causa, mas porque alguém resolveu que não deveria cuidar de mim direito. 

Pelas mãos de um médico que deveria resolver um problema simples, fui levada para um caminho agonizante, de dor, dúvida, lágrimas. Depois, Pelas mãos de outro médico, depois de ter sido ignorada pelo primeiro fui guiada para uma estrada com um pouco de esperança e até otimismo. 

Agora estou em casa, fora de perigo. Espero ter forças para me recuperar rapidamente. Espero abraçar todas as pessoas que me desejaram o bem. Não lembrar de quem não lembrou de mim e, enquadrar legalmente aquele que pensou que o meu corpo/templo, era só mais um que se podia ignorar depois de estragar. 

E mais, seguirei escrevendo meus clichês e lutando por um país melhor e menos desigual. Porque ser mulher é difícil, mas ser fraco das convicções é muito pior. 

Taís Morais

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