Por que eu fecho portas

Eu detesto portas abertas. Elas fazem com que eu me sinta vigiada, “voyerizada” e vulnerável. 

Eu tenho medo de portas abertas, não por achar que seres humanos entrarão por elas para me fazer algum mal, sim por ter absoluto pavor de fantasmas. Sim, isso mesmo, fantasma... Alma penada....

Você deve estar pensando aí: “ué, mas fantasmas atravessam portas.” 

- Eu sei. 

Mas se estiver fechada, as almas terão um pouco mais de trabalho para me assustar. 

tenho preconceito com portas. 

Minha mãe sempre me fala que se eu fizer isso ou aquilo, se for má, ou causar dor a alguém, irei para o umbral quando morrer.

- Meu Deus! Então, eu vou ficar parada na porta? 

- não gosto de ficar no meio do caminho, por isso, vou fazer o possível para não ir para esse tal de umbral.

Ah, você, Leitor Amigo, pode rir, mas possuo o estranho hábito de nunca de nunca dormir com porta aberta, não viajo de costas nos trens, vans e metrôs. Nem na limousine, (que eu nunca andei).

Entro nos lugares já observando onde estão as portas! Não senti de costas para elas, de jeito nenhum! 

Os assentos do avião, são os do meio. Nada de janela ou corredor. 

Pode até ser loucura minha, mas você aí também deve ter algumas. Esses são alguns motivos pelos quais eu não gosto de portas abertas. Mas não vou discorrer sobre umbrais físicos. 

Consideremos apenas os imaginários, está bem?


Eu sou prática e objetiva. Às vezes, até demais. 

Gosto de coisas simples, pessoas simples, lugares simples e sorrisos francos. Por isso, procuro simplificar tudo. 

Desde sempre, quando eu passo por uma soleira, fecho o portal. Não por maldade ou egoísmo. Sim, por auto preservação e respeito a quem eu sou. Simples, não? 

Sim! Bem simples.

Quando se opta por sair, teoricamente o desejo é deixar o ambiente para trás. Para isso, devem haver razões importantes. É imprescindível que, ao sair, as passagens sejam cerradas para não correr o risco de voltar pelo caminho errado.

Ao passar por uma porta, algo me diz: vede as soleiras! Rápido!

Carinhosamente eu puxo o trinco e, com um grande estrondo, escureço o caminho. 

Preciso ter certeza que os fantasmas não virão atrás de mim. O tempo verbal já diz tudo: passado.

Ele pode ter sido perfeito, imperfeito ou mais que perfeito. Simples ou composto. Ele só não pode ser futuro do pretérito. Eu não permito. Futuro é futuro. A gente precisa encerrar ciclos, histórias ou, seja lá o que for. 

Portas foram feitas para separar. Eu as fecho para bloquear a passagem de almas penadas. 

Houve um tempo em que eu me arrependia por ter batido a porta. 

Atualmente, eu me alegro ao recordar quanta dor eu senti ao rachar a parede ou ao apertar meu dedo.

Como diz aquele clichê, quando uma porta se fecha, outra se abre. 

Na verdade, muitas vezes a porta se fecha e a gente não consegue sequer enxergar a janela.

Então, é por isso que eu bato as portas, para que elas não se fechem antes de eu sair, me sufocando para sempre.

É preciso fechar os umbrais. Tapar as frestas. Perder as chaves e seguir em frente. 

A vida é apenas um sopro.

Nightmare

Meu corpo tremeu de frio, medo e solidão.
Um vento gélido me abraçou,
Meus pés não conseguiram se mover,
E minhas pernas pesaram...

O lugar se tornou desconhecido, cinza, feio.
Não reconheci nenhum rosto,
Não havia mais alegria nem esperança,
Muito menos sorrisos ou palavras bonitas.

Abriu-se um enorme abismo,
Uma fenda vermelha e úmida,
O perfume se tornou apenas um cheiro
De pura saudade, de dor e de melancolia.

Não houve mais dias claros,
Nem noites estreladas,
Não pude mais respirar, muito menos viver,
Quando eu soube que não haveria mais você...

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