Desintoxicação 

Quando os dias amanhecem, acredito estar curada. 

Por alguns momentos meu corpo parece finalmente livre.  

Nenhum desejo toma conta de mim, da minha boca ou mente.

Parece possível que as prescrições, os remédios e o tempo me tenham liberado da abstinência e da saudade.

Contudo, quando me sento para o café, a sua imagem vem forte e precisa até os meus olhos. Um suspiro suspeito me faz lembrar dos nossos orgasmos.

Me perco penando que seria tão bom tê-lo por mais uma semana, mais um mês.... ou um ano. 

Não seria muito tempo. Nem pouco.

Em uma semana poderíamos reunir todas as palavras de amor que pudéssemos encontrar em alguns livros.

Em um mês, coletaríamos todas aquelas que já foram escondidas nas cartas não escritas.

E em um ano, poderíamos catalogar todas as expressões de amor já pronunciadas sobre a terra. 

Depois disso, poderíamos jogá-las ao fogo e aproveitar para acalentar-nos com o calor do amor queimado.

Podemos também queimar a forma literal da língua. 

Em uma semana eu poderia dar-te amor. E receber. 

Tu poderias, depois, fazer o que quisesse com ele. Matar, acariciar, guardar ou jogar no lixo.

Eu queria apenas uma semana a mais para entender algumas coisas e te contar outras.

Um mês a mais, para desapegar-me dos teus olhos e da tua voz.

E um ano mais para aproveitar-me de todos os teus encantos, roubando-te suspiros e fluidos. E depois, eu juro, me internaria em uma instituição para me desintoxicar de você e gravar nossos nomes num panteão...

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