carta à minha Mãe

Oi, Mãe!
Como tem passado?
Por aqui tudo seco e sem cor.
Tenho buscado forças para conviver com o vazio que você deixou, confesso que tenho ido bem. Mas de vez em quando a máquina pifa e vaza lágrimas por todos os lados.
Sinto falta de telefonar para ouvir sua voz e não falar sobre nada demais.
Sinto falta de saber que quando o telefone fixo tocava, poderia ser você.
Sinto falta até da sua comida ruim e do feijão sem tempero. Pois é, mãe, eu nunca te disse, mas você cozinhava mal demais!
A vida aqui na terra continua dura. Quase nada mudou. Mas te conhecendo como te conheço, você deve estar mais informada do que eu.

Mãe, hoje em especial, sinto falta da sua voz. Do seu abraço e da sua paz.
Se eu tivesse direito a um só presente, eu queria você de volta.
Não precisaria ganhar mais nada até o fim dos meus dias. Só queria mesmo um abraço, um olhar e a sua voz me dizendo que tudo vai dar certo.
E se der errado, você vai estar aqui para me amparar.

Olha Mãe, eu sei que não fui e não sou perfeita. Ao contrário!
Sou cheia de defeitos, um pouco egoísta, centralizadora e mandona.
Eu sei que já gritei e briguei com você. Que você gritou e se desentendeu comigo.
Mas eu não trocaria isso por nada no mundo. Foi assim que aprendemos uma com a outra,
E se eu precisasse fazer tudo de novo só para te ter aqui, eu faria.

É, mãe...
Estou sendo obrigada a crescer.
Não tenho mais a barra da sua saia para me esconder,
Não tenho seu teto para me abrigar das minhas próprias tempestades.
Não tenho mais a quem culpar por não nos vermos tanto quanto eu gostaria.
Sou obrigada a conviver com o fato de que morávamos pertinho uma da outra e não nos víamos quase nunca.
Não tenho mais com quem brigar pela bagunça da sua casa. Pelos milhares de objetos que você acumulava dentro da sua própria casa.
Não tenho mais a sua casa para ir, Mãe...

É, mamãe... mal sabia eu que este seria um aniversário tão dolorido...
Mal sabíamos que o ano passado seria o último dia de você acordada...
Seria o dia do seu último sorriso para a foto.
O meu dia nunca mais será o mesmo sem você, mamãe.

Eu não sei mais o que fazer, confesso que me sinto uma menina perdida na praia cheia.
Me sinto pequena demais para pegar o ônibus lotado.
Me sinto à deriva sem a sua ajuda silenciosa.

Olha, Mãe.
Eu sei que você está bem e eu só queria dizer que estou com saudades.
Um saudade tão grande que transborda do peito e escorre pelo rosto.

Obrigada, Mãe. Por ter sido minha Mamãe.
Por ter me ensinado a ser forte.
Por ter sorrido comigo e de mim.
Por ter brigado comigo e por mim.
Obrigada, Mãe. Foi um privilégio te conhecer no dia 27 de agosto de 1974.
Foi um privilégio alegre comemorar 44 anos contigo, mesmo quando estivemos distantes fisicamente.
Esse ano, eu não vou te assoprar quando disserem para apagar a velinha. Está sendo uma solidão inacreditável comemorar 45 anos sem você.
Ainda assim, Geni, sempre foi e sempre será um privilégio e um orgulho ser sua filha.

Eu te Amo.

Sua Filha, Taís Morais.


Oração 

Quando abro os meus olhos pela manhã, sinto falta da sua presença.

Durante o dia, te procuro. Te busco entre as pessoas, nos passantes e nos motoristas.

Confundo vozes e pegadas. Escuto suas risadas em outras risadas e sinto teu cheiro em outros perfumes. É no meio da rua que eu me sinto menos só. 

Quando estou sozinha, a solidão declama teu nome. Todos os lugares são vazios, como se fossem feitos para você e eu.

Me distraem as nossas lembranças. Relembro nossos momentos como um filme. E me ponho a te esperar.

Te espero da hora que acordo até o a hora de dormir. Mas você não chega.

Eu adormeço terrivelmente cansada e triste. 

Imploro ao meu Deus que te traga para mim. Que te coloque nos meus braços e te deixe aqui ao meu lado.

E que você permaneça. Que me sinta e me dedique os seus sorrisos. 

Eu escrevo, suplico, escrevo e espero que você leia. Que saiba do meu amor e minha saudade.

Rabisco estas letras na inocente esperança de que elas te encontrem. E que ao começar a ler, você me leia por dentro.

Escrevo poemas na intenção de que as palavras te enlacem, te suguem e te beijem...

Meus textos são como orações. Primeiro eles agradecem pelo dia em que te conheci. Depois elas clamam pela tua chegada, teu amor e tua devoção.

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