Órfā

 Chegou como um raio de sol outonal:

- Cálido, luminoso, benfazejo e lindo.
Entrou pela janela dos meus sonhos e
Aqueceu minh'alma gelada e desfeita.

Ofertou-me sorrisos e abraços calorosos
Me fez desejar novos dias e lindas noites.
Passou pela porta, reuniu meus pedaços e
Costurou os retalhos dessa minha existência esfarrapada.

Tomou meu coração com seus olhares fortes e sua voz firme,
Deitou-me sobre as mais lindas rosas,
Inebriou-me com seu perfume e
Transformou descrença em esperança.

Como chegou, partiu. - O meu coração.
Os olhares que quebraram as pedras do meu peito
Se desviaram do meu caminho deixando o abismo.
Fez dos meus olhos secos, oásis.

Minhas mãos,
Que tanto amaram acariciar aquele corpo-veludo,
Quedaram ressequidas, sem vida. E eu,
Órfã de um amor que nunca existiu...

Anseios

 Ah, como eu gostaria que seus ouvidos escutassem o que dizem os meus olhos....

Haveria tanta paz no nosso viver, haveria tanto Amor no nosso Amor...

Ah, como seria bom se o seu coração batesse no compasso do meu. 
Se a sua boca me beijasse como eu te beijo.

Ah, como seria lindo se os seus desejos se encontrassem com os meus nas esquinas dos nossos dias.
Se os nossos sonhos fossem os mesmos e as tuas metas fossem as nossas metas.

Ah, como seria encantador ter os meus dias bordados com as tuas noites. 
Ter tuas pernas tricotando as minhas e teus dedos desenhando os meus sorrisos.

Ah, como seria perfeito descansar no teu peito, com o meu ouvido escutando as batidas fortes do teu coração acelerado de prazer....

Ah, como seria bom te ter em mim...

Oração

 Quando abro os meus olhos pela manhã, sinto falta da sua presença.

Durante o dia, te procuro. Te busco entre as pessoas, nos passantes e nos motoristas.

Confundo vozes e pegadas. Escuto suas risadas em outras risadas e sinto teu cheiro em outros perfumes. É no meio da rua que eu me sinto menos só. 

Quando estou sozinha, a solidão declama teu nome. Todos os lugares são vazios, como se fossem feitos para você e eu.

Me distraem as nossas lembranças. Relembro nossos momentos como um filme. E me ponho a te esperar.

Te espero da hora que acordo até o a hora de dormir. Mas você não chega.

Eu adormeço terrivelmente cansada e triste. 

Imploro ao meu Deus que te traga para mim. Que te coloque nos meus braços e te deixe aqui ao meu lado.

E que você permaneça. Que me sinta e me dedique os seus sorrisos. 

Eu escrevo, suplico, escrevo e espero que você leia. Que saiba do meu amor e minha saudade.

Rabisco estas letras na inocente esperança de que elas te encontrem. E que ao começar a ler, você me leia por dentro.

Escrevo poemas na intenção de que as palavras te enlacem, te suguem e te beijem...

Meus textos são como orações. Primeiro eles agradecem pelo dia em que te conheci. Depois elas clamam pela tua chegada, teu amor e tua devoção.

Foi assim

 Foi assim...

... Seu instante se tornou a minha hora,Seus sorrisos floresceram os meus,Suas palavras cultivaram o meu coração.Você frutificou a terra ressequida de outrora,Derramou sol nas minhas sombras,E aqueceu meu gélido ser.Foi assim, Meu Bem,Que você passou de um olhar e de uma lembrança distantes,Para um querer tão perto...Tão necessário,Tão Meu...

A morte em mim


 Todas as vezes que tentei morrer, 

Não era a minha vida que eu queria tirar.

Queria matar a morte que vive em mim.

Que me despedaça, que me dá engulhos,

Me desespera e me bate contra a parede de concreto.

Existe uma dor em mim. Tão, tão grande, que não cabe no meu peito, não cabe numa caixinha de remédios, nem na caixa de sapatos. 

A dor de morte que vive em mim, trabalha espreitando. Quando menos espero, ela solta a magia da tristeza profunda, me joga no leito e me arranca lágrimas sem sentido.

As mortes que eu, quase, morri, não eram para levar o meu corpo físico. Eu só queria que a dor de viver acabasse para eu acordar feliz. 

Mas a morte é traiçoeira e poupa as pessoas que têm dor. Ela não quer sofrimento no seu departamento. Se é pra morrer, diz dona morte, morra feliz….

Mergulho

 O escuro fundo se aproxima dos meus olhos.
Já não há volta. Não há luz.
As profundezas desse desconhecido mar ocultam minhas lágrimas. 
Sufocam minha voz. 
Oprimem o meu peito.
O mar, que antes me fazia tão contente, roubou meu sorriso.
As águas revoltas entortaram meus joelhos e me jogaram na areia. 
Redenção? Já não há.
Não existem saídas nem respiração. 
Sinto-me afogada nos meus próprios sonhos. Nas minhas próprias esperanças.
Já não há felicidade com o por do sol.
Meus olhos não encontram nem mesmo o prazer fugidio dantes tão fácil de alcançar. 
Penso em me deixar levar pelos cachos coloridos das ondas que me acertaram.
Já não vejo o mundo. Tudo está imundo. Úmido. Triste e sombrio.
Já não há água doce que alenta. Apenas o sal que lacera meu coração e minha pele.
Já não há vida. Há apenas um corpo que boia aguardando resgate…


Perdição

 A sua voz tem cheiro de saudade.

Saudade do seu beijo, do seu corpo.
Das suas mãos macias e sua respiração calma.

A sua voz tem gosto de sorriso.
De gargalhada gostosa, de verdades sem vergonha,
De dias leves e cerveja gelada no copo em dia quente.

A sua voz tem som de Amor.
Amor sem tempo, sem hora marcada,
Com desejo e sem despedida.

A sua voz tem imagem.
Quando a vejo, bem dentro de mim, enxergo o sol.
Enxergo o mar e a luz de um dia azul cheio de promessas.

A sua voz tem chamamento.
Tem convite para Amar um grande amor.
É tesão. É loucura. 
É Amor de perdição.

Tempestade

Amanheci com saudades dos seus olhos. 

Aqueles olhos que me olhavam com ternura, com desejo e gula.

Amanheci com a angustiante ausência dos seus olhos em festa.

Festas de arromba que as meninas dos seus olhos fazia ao encontrar as minhas.

Hoje o meu corpo se ressentiu com a falta dos seus olhares de cobiça. 

Minha boca soluçou um pedido a Deus: - que seus olhos voltassem a ter alegria e a me enxergar como antes.

Hoje amanheci sem os teus olhos mergulhados nos meus e minha alma sentiu frio.

Hoje seus olhos cor de tempestade me trouxeram dor. A dor de não poder ver a minha imagem feliz dentro deles.

E então, fez-se em mim uma tormenta com a fúria de mim sem você.


O mar em mim

 Eu tenho o mar dentro de mim.
Meus olhos moram no mar e além-mar.
Meu coração ressequido é embelezado com a mais fina e branca areia, e espera ansioso pela maré alta. 
Esse é o momento mágico em que o mar beija meu corpo e minha vida ganha um pouco de sal e umidade.
Eu tenho dentro de mim, um mar imenso.
Verde e azul. 
Mas por fora sou apenas deserto. 
Minhas florestas e palmeiras se foram. Tornaram-se lembranças de dias bons e gloriosos.
Minha alma mora no mar.
É meu corpo sonha com as altas montanhas, de onde se avista o mar.
Minha alma vive no mar enquanto o meu corpo espera o dia de encontrar o paraíso. Com a esperança de que no paraíso haja um mar. Verde, azul. Calmo, revolto. Não importa, basta que seja um mar. Que tenha cheiro de mar.
E mar cheira a paz.
Eu preciso de paz.
Necessito repousar em paz com esse mar que mora em mim.

Em cena

As cortinas já se fecharam, mas você insiste que o ato ainda pode entrar em cena.
Minhas risadas sem graça, meus olhos maquiados, meus braços e mãos gesticulando sem parar, persistem no drama que nem você e nem eu queremos viver.
Eu te peço por favor.
Você insiste, por favor. 
Meus olhos tristes se desmontam em uma cessão que só você não percebe ser demais.

Você.
Eu.
Você lá.
Eu cá.

Ainda bem que a terra é redonda e a gente pode nunca mais se encontrar.
Eu não quero mais seu mau-humor, seu temperamento, sua birra e seu dia a dia complicado.
Eu quero o meu dia a dia cheio de complicações. Mas apenas as complicações escolhidas a dedo.
Eu “quero a sorte de um amor tranquilo.” Ou de nenhum amor.
Eu não quero a sorte de enxergar cara-feia e mau-humor. Quero só a paz de uma vida tranquila. 
Pode ser uma vida sem glamour, sem vinho, sem queijo e sem beijo.
Que seja uma vida com risos, águas e macarrão.
Eu só quero a sorte de ser tranquila.
E já estou farta dos amores confusos que surgem vida a dentro. 
Estou farta de suplicar amor e receber migalhas.
Vá. Me vou. Deixe o meu corpo escravo em paz! 
Ele está cansado, roto e ferido. 
Precisando de paz..!!!

Solitude

Já tentei ser da multidão. 
Já tentei fazer parte de grupos, grupinho, grupão.
Já fui amada. Já amei.
Amei pessoas que não eram pessoas.
Gente que se disfarçava de gente.
Já amei amigos que não eram amigos
Homens que não eram Homens. Eram qualquer coisa, menos homens no sentido de humanidade, calor, respeito e afeição.
Não amei pessoas que eram pessoas, gente que era gente e homens que eram homens de verdade.
Deixei amigos verdadeiros pelo caminho e esqueci colegas que eram presentes.
Me recolhi em solidão. 
Me apartei do mundo querendo que ele mudasse. 
Mas que ilusão!!!
Eu me prendi em um planeta todo meu, sofri e chorei.
Maldisse os outros, culpei todo mundo pela minha má sorte.
E desci ao lar de Hades.
E foi então, que me descobri.
Na mais profunda tristeza encontrei a receita do sorriso.
Na mais intensa dor achei o meu bálsamo. 
Da solidão se fez a solitude e eu me vi feliz.
Comecei a gostar, novamente, do meu reflexo no espelho.

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