A morte em mim


 Todas as vezes que tentei morrer, 

Não era a minha vida que eu queria tirar.

Queria matar a morte que vive em mim.

Que me despedaça, que me dá engulhos,

Me desespera e me bate contra a parede de concreto.

Existe uma dor em mim. Tão, tão grande, que não cabe no meu peito, não cabe numa caixinha de remédios, nem na caixa de sapatos. 

A dor de morte que vive em mim, trabalha espreitando. Quando menos espero, ela solta a magia da tristeza profunda, me joga no leito e me arranca lágrimas sem sentido.

As mortes que eu, quase, morri, não eram para levar o meu corpo físico. Eu só queria que a dor de viver acabasse para eu acordar feliz. 

Mas a morte é traiçoeira e poupa as pessoas que têm dor. Ela não quer sofrimento no seu departamento. Se é pra morrer, diz dona morte, morra feliz….

Foi assim

 Uma lembrança 


Foi assim...... Seu instante se tornou a minha hora,Seus sorrisos floresceram os meus,Suas palavras cultivaram o meu coração.Você frutificou a terra ressequida de outrora,Derramou sol nas minhas sombras,E aqueceu meu gélido ser.Foi assim, Meu Bem,Que você passou de um olhar distante,Para um querer tão perto...Tão necessário,Tão Meu...

Mergulho

 O escuro fundo se aproxima dos meus olhos.
Já não há volta. Não há luz.
As profundezas desse desconhecido mar ocultam minhas lágrimas. 
Sufocam minha voz. 
Oprimem o meu peito.
O mar, que antes me fazia tão contente, roubou meu sorriso.
As águas revoltas entortaram meus joelhos e me jogaram na areia. 
Redenção? Já não há.
Não existem saídas nem respiração. 
Sinto-me afogada nos meus próprios sonhos. Nas minhas próprias esperanças.
Já não há felicidade com o por do sol.
Meus olhos não encontram nem mesmo o prazer fugidio dantes tão fácil de alcançar. 
Penso em me deixar levar pelos cachos coloridos das ondas que me acertaram.
Já não vejo o mundo. Tudo está imundo. Úmido. Triste e sombrio.
Já não há água doce que alenta. Apenas o sal que lacera meu coração e minha pele.
Já não há vida. Há apenas um corpo que boia aguardando resgate…


Perdição

 A sua voz tem cheiro de saudade.

Saudade do seu beijo, do seu corpo.
Das suas mãos macias e sua respiração calma.

A sua voz tem gosto de sorriso.
De gargalhada gostosa, de verdades sem vergonha,
De dias leves e cerveja gelada no copo em dia quente.

A sua voz tem som de Amor.
Amor sem tempo, sem hora marcada,
Com desejo e sem despedida.

A sua voz tem imagem.
Quando a vejo, bem dentro de mim, enxergo o sol.
Enxergo o mar e a luz de um dia azul cheio de promessas.

A sua voz tem chamamento.
Tem convite para Amar um grande amor.
É tesão. É loucura. 
É Amor de perdição.

Anseios

Ah, como eu gostaria que seus ouvidos escutassem o que dizem os meus olhos....
Haveria tanta paz no nosso viver, haveria tanto Amor no nosso Amor...

Ah, como seria bom se o seu coração batesse no compasso do meu. 
Se a sua boca me beijasse como eu te beijo.

Ah, como seria lindo se os seus desejos se encontrassem com os meus nas esquinas dos nossos dias.
Se os nossos sonhos fossem os mesmos e as tuas metas fossem as nossas metas.

Ah, como seria encantador ter os meus dias bordados com as tuas noites. Ter tuas pernas tricotando as minhas e teus dedos desenhando os meus sorrisos.

Ah, como seria perfeito descansar no teu peito, com o meu ouvido escutando as batidas fortes do teu coração acelerado de prazer....

Ah, como seria bom te ter em mim...

Tempestade

Amanheci com saudades dos seus olhos. 

Aqueles olhos que me olhavam com ternura, com desejo e gula.

Amanheci com a angustiante ausência dos seus olhos em festa.

Festas de arromba que as meninas dos seus olhos fazia ao encontrar as minhas.

Hoje o meu corpo se ressentiu com a falta dos seus olhares de cobiça. 

Minha boca soluçou um pedido a Deus: - que seus olhos voltassem a ter alegria e a me enxergar como antes.

Hoje amanheci sem os teus olhos mergulhados nos meus e minha alma sentiu frio.

Hoje seus olhos cor de tempestade me trouxeram dor. A dor de não poder ver a minha imagem feliz dentro deles.

E então, fez-se em mim uma tormenta com a fúria de mim sem você.


O mar em mim

 Eu tenho o mar dentro de mim.
Meus olhos moram no mar e além-mar.
Meu coração ressequido é embelezado com a mais fina e branca areia, e espera ansioso pela maré alta. 
Esse é o momento mágico em que o mar beija meu corpo e minha vida ganha um pouco de sal e umidade.
Eu tenho dentro de mim, um mar imenso.
Verde e azul. 
Mas por fora sou apenas deserto. 
Minhas florestas e palmeiras se foram. Tornaram-se lembranças de dias bons e gloriosos.
Minha alma mora no mar.
É meu corpo sonha com as altas montanhas, de onde se avista o mar.
Minha alma vive no mar enquanto o meu corpo espera o dia de encontrar o paraíso. Com a esperança de que no paraíso haja um mar. Verde, azul. Calmo, revolto. Não importa, basta que seja um mar. Que tenha cheiro de mar.
E mar cheira a paz.
Eu preciso de paz.
Necessito repousar em paz com esse mar que mora em mim.

Em cena

As cortinas já se fecharam, mas você insiste que o ato ainda pode entrar em cena.
Minhas risadas sem graça, meus olhos maquiados, meus braços e mãos gesticulando sem parar, persistem no drama que nem você e nem eu queremos viver.
Eu te peço por favor.
Você insiste, por favor. 
Meus olhos tristes se desmontam em uma cessão que só você não percebe ser demais.

Você.
Eu.
Você lá.
Eu cá.

Ainda bem que a terra é redonda e a gente pode nunca mais se encontrar.
Eu não quero mais seu mau-humor, seu temperamento, sua birra e seu dia a dia complicado.
Eu quero o meu dia a dia cheio de complicações. Mas apenas as complicações escolhidas a dedo.
Eu “quero a sorte de um amor tranquilo.” Ou de nenhum amor.
Eu não quero a sorte de enxergar cara-feia e mau-humor. Quero só a paz de uma vida tranquila. 
Pode ser uma vida sem glamour, sem vinho, sem queijo e sem beijo.
Que seja uma vida com risos, águas e macarrão.
Eu só quero a sorte de ser tranquila.
E já estou farta dos amores confusos que surgem vida a dentro. 
Estou farta de suplicar amor e receber migalhas.
Vá. Me vou. Deixe o meu corpo escravo em paz! 
Ele está cansado, roto e ferido. 
Precisando de paz..!!!

Solitude

Já tentei ser da multidão. 
Já tentei fazer parte de grupos, grupinho, grupão.
Já fui amada. Já amei.
Amei pessoas que não eram pessoas.
Gente que se disfarçava de gente.
Já amei amigos que não eram amigos
Homens que não eram Homens. Eram qualquer coisa, menos homens no sentido de humanidade, calor, respeito e afeição.
Não amei pessoas que eram pessoas, gente que era gente e homens que eram homens de verdade.
Deixei amigos verdadeiros pelo caminho e esqueci colegas que eram presentes.
Me recolhi em solidão. 
Me apartei do mundo querendo que ele mudasse. 
Mas que ilusão!!!
Eu me prendi em um planeta todo meu, sofri e chorei.
Maldisse os outros, culpei todo mundo pela minha má sorte.
E desci ao lar de Hades.
E foi então, que me descobri.
Na mais profunda tristeza encontrei a receita do sorriso.
Na mais intensa dor achei o meu bálsamo. 
Da solidão se fez a solitude e eu me vi feliz.
Comecei a gostar, novamente, do meu reflexo no espelho.

Clichê

 Eu gosto de escrever clichês. Eles são fáceis, todo mundo vive e existe um para cada situação. 

Clichê, no sentido figurado, é uma ideia já muito batida, uma fórmula muito repetida de falar ou escrever, um chavão.

Etimologicamente, a palavra clichê tem origem no francês cliché.

São sinônimos da palavra clichê: lugar-comum, repetido, chavão, comum, previsível e repetido.

Clichê era, originalmente, uma chapa metálica que trazia gravada em relevo uma imagem destinada a ser reproduzida para impressão de imagens e textos por meio de prensa tipográfica.

No caso deste texto, é mesmo por causa de um bordão. Um termo que se usa muito e muito se esquece. 

- A vida é breve.

Acredito que a gente deve ler e/ou escutar essa frase (ou algo parecido), diversas vezes por dia. Ainda assim, não nos damos conta do quão frágil é essa nossa carcaça apelidada de corpo. 

Passamos a vida não nos importando para a saúde, exagerando, comendo porcaria, bebendo um monte, saindo com diversas pessoas, machucando e sendo machucado com a única justificativa: - a vida é curta. 

Mas não, amigos-leitores. Ela não é curta. É frágil. E por mais que façamos tudo certo, podemos acordar num belo dia e perceber somente o caos ao redor. É mesmo que se percam filhos, pais, tios e amigos, o que a gente faz? Segue em frente, afinal, a vida é breve!

Mas e quando você se pega fragilizado por mãos alheias e o filme da vida, que era curta, passa pela sua cabeça e fica ainda mais curta? 

Os “amigos” sumiram, o corpo sarado não está útil e sua saúde está frangalhos? Fazer o que? - reclamar para Deus. Pedir aos anjos, aos arcanjos e todas as entidades que perdoem os seus excessos anteriores e te deem mais uma chance de viver. Talvez, ser útil. De amar e ser amado. Ser melhor?

Nunca julguei que eu tivesse medo da morte. Sempre tive mais medo de definhar aos poucos do que de morrer. Mas neste fim de semana, quando meu estado de saúde passou de ótimo para crítico e de crítico para estável, eu descobri que eu tenho medo dessa faceta da morte. Essa de dor e desespero. De tristeza e luto. 

Tive medo de não mais ver meus filhos, meu marido, minhas cachorrras, a família, os netos que não tenho. Os cães que não adotei e de não testar aqueles pratos salvos no aplicativo. Pensei no pudim que eu não fiz, na feijoada que não comi, na caipirinha que não bebi e que talvez não bebesse nunca mais. Pensei nos lindos lugares que não fui, nas pontes que não cruzei e nas praias que não me banhei. Não por minha causa, mas porque alguém resolveu que não deveria cuidar de mim direito. 

Pelas mãos de um médico que deveria resolver um problema simples, fui levada para um caminho agonizante, de dor, dúvida, lágrimas. Depois, Pelas mãos de outro médico, depois de ter sido ignorada pelo primeiro fui guiada para uma estrada com um pouco de esperança e até otimismo. 

Agora estou em casa, fora de perigo. Espero ter forças para me recuperar rapidamente. Espero abraçar todas as pessoas que me desejaram o bem. Não lembrar de quem não lembrou de mim e, enquadrar legalmente aquele que pensou que o meu corpo/templo, era só mais um que se podia ignorar depois de estragar. 

E mais, seguirei escrevendo meus clichês e lutando por um país melhor e menos desigual. Porque ser mulher é difícil, mas ser fraco das convicções é muito pior. 

Taís Morais

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