Palimpsesto

Rescrevo a história para tentar viver. 
Sobreviver ao otimismo
Respirando no fundo do mar.

Reescrevo minhas notas mortais
Na esperança de que os meus olhos vagos
Voltem a enxergar a luz calma da manhã
Em que minha existência parou.


Sonho

Eu só queria, por um instante,
Ter o seu rosto pelas minhas mãos.
E por outro instante, beijar a tua boca.

Eu queria, por um momento, acreditar.
Abrir os olhos e te ver
Sorrindo ao meu lado para que o mundo
Deixasse de ser tão feio.

Eu só queria, por um minuto,
Aquecer minha alma na tua,
Vencer a noite fria
Sabendo que o teu corpo me acolhe.

Eu só queria despertar desse pesadelo
Que me afasta de você,
Que interfere no meu riso
E alimenta o meu choro.

Eu só queria que sua ausência não fosse sonho.
E por um segundo ter a certeza,
De que a vida não é tão vazia.
Ter o seu perfume na minha pele...

...E jamais despertar.

Solidão

Estar só não é estar sem alguém,
É chorar sozinho num canto para que os outros não vejam,
É sorrir para o mundo quando ele está de mal de você.
E viver sua vida quando a morte ronda sua alma.

Solidão é sentir as dores dos outros
Quando ninguém percebe que você sofre.
É pedir abrigo dentro de você mesmo
Porque do lado de fora você não tem espaço.

Solidão é querer o sol e continuar na sombra.
É ver que o relógio não para enquanto suas rugas brotam,
Mas não deixar que a queda lhe faça mais sulcos na pele.

Solidão é fechar os olhos e sentir a multidão
Mas saber que ela não compreende uma só palavra sua.
É voar alto em dias de nuvens baixas.
É mergulhar fundo no mar das suas tristezas,
Mas deixar a sua marca feliz na terra infértil.

Solidão é amar demais e ver seu amor escorrendo
Por entre lágrimas e desertos interiores,
É ter o ventre ressequido por tantas agruras,
E a garganta fechada por lágrimas que não foram choradas.

Recriação

Lavo as lágrimas deixadas por tua partida,
Amarro-me à ilusão da tua chegada.
Insurjo-me contra a minha tristeza,
Contra a tua ausência tão dorida.

Me debato com a saudade que
Me olha no espelho sorrindo
E zombando de mim.

Me recrio,
Monstro feroz,
Rebelde e algoz,
Deste amor que sinto por ti.

Dizeres

Não diga que não tentei,
Não sorri,
Não acenei pedindo teu colo e teu socorro...

Não diga que não mordi,
Que não beijei,
Não me entreguei,
Não fui tua, nem te fiz meu...

Não abane a cabeça,
Não te importe com meus sonhos retalhados, retratados, mal terminados.
Nem satisfaça os meus desejos...

Depois não reclame e nem fale que não avisei,
Que fui infiel às minhas próprias palavras,
Não lutei e nem costurei os retalhos dessa convivência...

Não amaldiçoe a partida,
Nem te lembre da chegada,
Não diga que não sofri, 
nem finja que não foi bom. 

Apenas me ame, ame, ame.
Por Hoje e por todo o sempre. 

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