Idílio


Daqui eu avisto uma baía, uma praça e uma tela.

Prédios que se estendem ao longe...

Um vento cálido me abraça o corpo, passeia por meus cabelos,

Me faz lembrar você.

Teu abraço suado, tuas pernas entrelaçadas às minhas.

É que me apaixono todos os dias pela tua lembrança.

Pela tua beleza, pelo teu olhar calmo...

Ali, águas revoltas e marrons parecem o mesmo banzeiro

Que balança as tuas saudades aqui, dentro de mim.

Olha, já vai cair a chuva, precisava te dizer:

- venha para perto de mim...

Assim vou vivendo...

Arrumando o caos que a falta dos teus beijos causa.

Desenhando em cada grão de areia o teu rosto.

Sonhando a cada minuto com o reencontro,

E desejando tuas águas em meu delta.

Sonho

Eu tive um sonho...

Minhas mãos lambuzavam-se de mel,
e o verde da relva se condensava entre meus dedos.

Eu tive um sonho.

Meninos e meninas caminhavam juntos,
Seguiam na mesma paz.


Eu tive um sonho.

As frutas caíam frescas,
Enchiam de um aroma doce a terra fértil.

Acordei de um sonho...

E vi as marcas da guerra no chão,
Cicatrizes nos olhos,
Terra seca,
Sem frutas nem mel,
Meninos versus meninas,
E um mundo sem direção.

Parei

De marejar o olhar,
De sentir o teu cheiro nas promessas,
Nos dias verdes,
Nos sentidos e nos vestidos.

Não mais desejo os teus sapatos
Lado a lado com os meus,
Nem a tua toalha estendida junto à minha.

Não preciso dos teus dedos entrelaçados
Nem das tuas pernas sufocando as minhas.
Não te preciso e nem me desespero.

Apenas tenho saudades.

Não

Não adianta,
Não serei alvejada ou derrubada.
Não quero guerra,
Sou vermelho-paz...

E muito mais.

Algo

Em mim algo acontece
Quando o cansaço dos meus dias se junta
Com a rouquidão da noite que me cala, me desampara.

Em mim, algo sem cor,
Insano,
Insalubre,
Perdido.

Amarelo.

Silêncio

Quando os dedos calam, Meu bem,
O corpo ressente, entristece,
Adoece.

Quando a poesia pára, meu Bem,
É que a alma não bate,
o coração não pulsa,
O amor não acontece.

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