Cansei de tudo.
Da forma,
Do estilo, dos saltos.

Da desalegria,
Do que é notícia,
Do notório,
Dos dias que não amanheceram felizes.

Só não me cansei dos meus pés descalços,
Do meu sorriso gratuito,
Do gosto de fruta silvestre,
Do cheiro de mato molhado.

Papai Noel


Papai Noel

Fui menina, e você, Papai Noel,
Não pôs presentes nos meus sapatinhos.
No entanto, para tantos outros amiguinhos,
Trouxe brinquedos a granel.

Muitos dezembros vi, bebendo fel
De uma infância deserta de carinhos;
Enquanto queridos, meus vizinhos
Das flores sorviam mel.

Te via em todos os cantos da cidade
Tão meigo para com todos; todavia,
Não tiveste comigo um gesto nobre.

Mas não se chateie com minha cartinha, Papai Noel.
Hoje, para mim, teu desprezo se justifica:
Você não gosta de gente pobre,
Só presenteia criança rica.

Recolho-me aos desvãos do meu ser liberto,

Ligo o rádio e a canção não me fala mais sobre você.

Lágrimas se transformam em adubo para antigas saudades

Guardadas nas caixas-arquivo do coração.

Meu corpo cansado da dura caminhada acena para nosso passado,

Dança solitário e feliz,

Sem desejos, nem promessas.


Desatei as correntes aprisionadoras da minha alma,

As flores voltam a brotar das minhas mãos,

A exalar os perfumes de mim, do que sou...


Do que nunca deixarei de ser.

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